Agora olhando, acho que deveríamos reescrever todo este post. Foi escrito de uma vez só, há bem mais de uma semana. Aí, é claro, ficamos um pouco ocupados com o trabalho e não o publicamos. O festival veio e passou, então agora o post está desatualizado. Mas não só o verão chega amanhã – mas o post parece real, então vai assim mesmo. Mas acho que é um relato visual legal da nossa primavera na toscana. Se quiser/puder, indico ler a versão em Inglês original desse post que está bem melhor do que em português.
Enquanto estou aqui sentado e escrevendo isso, vários trabalhadores se apressam nas ruas para deixar a cidade pronta. Eles estão cortando as ervas daninhas selvagens que crescem nas calçadas. As ervas daninhas estão tomando conta de todos os cantinhos onde um pedaço de terra exposta pode abrigar algumas sementes escondidas que eventualmente crescerão e florescerão em algo – totalmente normal para esta época do ano.
Eu consigo ouvir a Marília dizendo algo para o gato entre as músicas no fone de ouvido. Há pouco tempo ela estava ouvindo Okkervil River, dava pra ouvir até de fone. Enquanto isso, passei a manhã ouvindo os antigos discos do Against Me!, tentando abafar o barulho das máquinas lá embaixo. Agora também consigo ouvir a máquina de lavar, o que significa que a Marília conferiu a previsão do tempo e provavelmente vai fazer sol. O que é ótimo, porque tem chovido sem parar este ano.
A cidade está uma loucura total enquanto se prepara. A Mostra del Chianti Montespertoli é o maior evento da cidade e, em uma cidade que leva o vinho tão a sério (temos nossa própria denominação DOCG), é a única coisa na mente das pessoas. O festival quase literalmente nos engole, então é melhor aproveitá-lo. E como é o principal cartão de visitas da cidade, a cidade precisa estar linda antes de sábado. Hoje é quinta-feira.
As barracas já estão montadas por toda a praça principal para cada vinícola participante. Elas vão vender taças de vinho, mas estão pensando em fazer negócios em maior escala. Haverá degustação de vinhos. As pessoas vêm de outros países para comprar vinho. Também há barracas de comida e jogos – e em algumas datas específicas – os vendedores de comida também tomam conta das ruas perto da praça principal da cidade e montam suas barracas. Incluindo a nossa rua e a rua ao lado. No ano passado, tivemos uma barraca de amêndoas caramelizadas em frente à nossa casa (atualização, a mesma coisa aconteceu este ano). Abrir as janelas durante a onda de calor significava sentir o cheiro de nozes caramelizadas e a visita de pernilongos. Não foi a melhor semana em termos de sono. Estamos felizes que esteja um pouco mais fresco este ano e que possamos manter as janelas fechadas.
Mas essa corrida de última hora para deixar a cidade pronta também nos fez acordar: nós estávamos planejando fazer este post desde o início da primavera. Mas Acho que é uma coincidência boa que isso esteja chegando até você só agora – pois também é uma grande transição para nós. (Atualização, somos pessoas horríveis).
Fora que o verão oficialmente começa amanhã. Para nós, o verão do ano passado significou uma coisa (além do calor horrível): nossa primeira temporada de casamentos aqui.
Ontem à noite, demos uma fugidinha do trabalho por algumas horas e, em vez de escrever isso ou fazer outras coisas que precisavam ser colocadas em dia, assistimos “MerPeople” na Netflix. O escapismo e a tentativa de entender uma subcultura completamente desconhecida para nós resultaram em uma noite bastante profunda em nossa casa.
Uma das coisas que aprendemos com o programa é que “Mermaiding” (?) oferece às pessoas uma forma de serem elas mesmas, o que é sempre incrível. Mas à medida que as pessoas fazem escolhas de vida que envolvem escolher carreiras baseadas em certas paixões, não podemos deixar de nos identificar um pouco. E ao vermos quanto tempo e esforço os outros dedicam para fazer algo que pode parecer tão “trivial” para a maioria – o sustento deles – passamos a maior parte da noite de ontem debatendo nossas próprias escolhas de vida. Não tanto debatendo, mas passando de “vamos ser artistas famintos para sempre” para nos sentirmos gratos por podermos viver de forma simples fazendo o que amamos. E nos permitindo fazer o que amamos no nosso tempo livre também.
“Tempo livre”. Isso tem sido estranho desde que nos mudamos. Antes da Itália, os casamentos eram distribuídos ao longo do ano de forma equilibrada. Talvez com um maio ou setembro ocasionalmente mais movimentado. Mas estávamos sempre pisando em ovos. Podíamos ter um casamento hoje e outro daqui a duas semanas – todo mês – durante o ano.
Agora temos as estações do ano. Tanto as estações dos casamentos quanto as do clima.
Ter estações do ano nos dá tempo novamente. Tempo para reformar o site quando as coisas estão mais calmas. Tempo para brincar na neve quando está frio e não ter que se preocupar torcer um pé ou se machucar na véspera de um casamento. Mas dizer que tem sido uma adaptação é um eufemismo. Aprender a oscilar entre estar incrivelmente ocupado e completamente sem trabalho tem sido um desafio. E como um dos meus escritores favoritos, Wesley Eisold, mencionou em uma newsletter outro dia – Quando você está no meio de qualquer extremo do espectro, que acabam sendo tempestades completamente diferentes, parece que esses períodos nunca vão acabar. Você não se lembra de como é estar no outro espectro. Tem sido difícil.
Enquanto uma série de chuvas incomuns e tempo fresco para esta época do ano dão lugar ao calor aqui na Toscana, estamos aos poucos abraçando a mudança. Já tivemos alguns casamentos este ano (sendo o primeiro deles muito chuvoso) e, embora isso fosse para ser uma coisa sobre a transição do inverno para a primavera, agora é uma coisa de “o verão chegou”.
A primavera foi ótima. Ela nos deu os melhores meses aqui até agora. É de longe a nossa estação favorita na Toscana, mas esta foi muito mais gratificante do que a última – talvez por estarmos mais adaptados a esta ser a nossa nova casa.
Alguns pensamentos aleatórios enquanto escrevemos esse post:
1. Entramos para um clube de fotografia na cidade. Somos os únicos profissionais lá. Acho que todo mundo lá ama fotografia mais do que a gente. Brincadeiras à parte, isso provavelmente é um pouco verdade.
2. Temos feito muito do nosso trabalho “nos bastidores” em inglês, o que tem sido ótimo. Eu (Frankie) me sentia estranho por não poder usá-lo com tanta frequência enquanto morávamos no Brasil, mas é tão bom voltar a uma língua em que me expresso melhor.
3. Compramos uma floreira gigante para nossa varanda. No momento, estamos cultivando berinjela, tomates cereja (amarelos e vermelhos), tomates florentinos, salsa, coentro E manjericão. Primeiro os pulgões atacaram tudo, depois as lagartas. Agora está tudo bem e estou esperando que estejamos comendo berinjela até o final da próxima semana.
4. Ainda estamos demorando para fazer amigos aqui.
5. Ganhei um forno de pizza de presente de aniversário, o que tem sido uma ótima atividade ao ar livre no fim de semana no quintal. Já brincamos sobre fazer uma “experiência” em que convidamos as pessoas depois de sessões de retratos e fazemos pizza para elas. Caso tenha interesse, nos avise.
6. Ainda não sabemos como conseguimos decidir nos mudar para o outro lado do planeta sem um emprego sólido ou uma quantidade grande de trabalhos agendados, mas conseguimos fazer as coisas darem certo.
7. Tenho me sentido péssimo em relação à minha própria fotografia. Estou tentando lidar com isso agora, mas tem gerado uma ansiedade um pouco incômoda. Talvez o fato de trabalhar tanto para fazer tudo isso funcionar seja o motivo pelo qual deu certo até agora, mas também o motivo dessa inquietação-ansiedade que tenho sentido.
8. A Marilia quer adotar outro gato. Eu também.
9. O buffet nos últimos casamentos que fotografamos foi incrível. Eles não estavam esperando um fornecedor vegetariano, então foram gentis o suficiente para me oferecer uma opção especial de ravioli de pera e mascarpone em um casamento, e outro ravioli de queijo no próximo. Os fornecedores também puderam escolher entre vinho branco ou tinto nos dois casamentos. Que diferença em relação a ter que explicar que precisamos comer pra não morrermos enquanto trabalhamos.
10. Não há um único dia em que algo sobre viver aqui não nos impressione de maneira positiva.
11. Estamos descobrindo rapidamente as coisas negativas que também nos irritam aqui. A atual é o quão rapidamente as pessoas sem necessidades especiais decidem estacionar em vagas acessíveis. Vemos isso acontecer quase todos os dias e nos enlouquece.
Bem, chega de conversa mole. Aqui está um registro visual da nossa primavera na Itália, acompanhamento do reel que postamos no nosso instagram e da newsletter que vamos mandar por email.
Desculpa por este post gigantesco. Deu vontade de escrever. Já fazia tempo.
-Frankie & Marília