Nossos Problemas Com as Redes Sociais & Ambrotipia | Pequenas Doses #75
Será que deveríamos mesmo estar fazendo esse post nesse momento? Não sei quantas vezes nos perguntamos se essa realmente era a hora pra sentar e escrever sobre nossa própria vida. Em comparação com o planeta e a saúde – assim como a saúde mental – de tantas pessoas mais importantes e em momentos tão mais delicados, falar dos nossos problemas banais parece um pouco egoísta agora. Pelo menos foi como ficamos nos sentindo depois do nosso post de outro dia no instagram, e acho que o que sobrou disso acabou “vazando” pra cá.
Quem veio aqui ler o pequenas doses provavelmente deve ter visto nosso post no instagram há uns dias; nosso textão desabafo. Textão desabafo um tanto perdido. Não perdido porque o que sentimos não faz sentido, porque sabemos que sentimos alguma coisa estranha em relação ao mercado da fotografia de casamento nesse momento, ou talvez o momento que a fotografia de casamento atravessa agora. Mas principalmente, sentimos algo que vai bem além disso. Estamos com um terrível mal-estar com as redes sociais e nossa presença e posicionamento nelas.
Ao mesmo tempo, acho que há anos não nos sentimos com tanta necessidade de conectar com outras pessoas. Então acho que chegamos em um momento crucial onde devemos, de algum jeito, enfrentar o que estamos sentindo. Chegou a hora que precisamos decidir se mudamos nosso posicionamento, encontramos uma solução, criamos alternativas – porque nossa técnica de sumir do mapa e fingir que não precisamos da internet não tem dado certo.
Em primeiro lugar, queríamos dizer que esperamos que todos e suas famílias e amigos estejam bem nesse momento. Nós, como imuno-deprimidos e do grupo de risco não temos saído de casa para nada e esperamos que todos que possam, estejam fazendo a mesma coisa. Queríamos também agradecer todos nossos amigos e conhecidos e ex-noivos que não têm essa escolha – muitos estão lá enfrentando isso bem de perto, todos os dias. Muito muito muito obrigado. Sei que em algum momento algum de vocês vai ler isso, e diante de tudo que vocês estão passando, nosso drama existencial não é nada.
Em segundo lugar, queríamos agradecer quem em algum momento perguntou sobre o Pequenas Doses. É estranho que algo tão pessoal e tão “bobo” marcou tanta gente que acompanhava nosso blog na época. Então muito obrigado por nos deixarem desconfortáveis o suficiente pra não deixar isso morrer.
Para quem viu nosso post lá no instagram, essa é uma continuação do nosso diálogo. Para quem não viu, o resumo de tudo é que nós estamos em uma crise existencial em relação a internet como ferramenta de trabalho. Não sabemos muito bem o motivo, mas temos algumas idéias.
A primeira é a facilidade do instagram para mostrar apenas o lado bom da vida (que muitas vezes nem é verdade). Isso nos traz comparações rasas com a vida perfeita – porém falsa – de muita gente e nos deixa mal. Eu (Frankie) já lidei com isso muito na terapia, mas é algo meu e realmente me incomoda, portanto não consigo deixar isso de lado. Faz parte de quem eu sou.
Isso trouxe a instagramatização do mundo real em todos os aspectos da cultura moderna. Tem transformado a arquitetura, decoração, design, turismo, religião – E OS CASAMENTOS.
Casamentos têm se tornado cada vez mais “instagramáveis”. E com a instagramatização dos casamentos vêm os males que a plataforma traz, que carregam para dentro de uma celebração do amor de duas pessoas a necessidade do like. Do ser compartilhado. Da velocidade de divulgação. Dos egos dos fornecedores envolvidos, todos querendo o próximo like e share. Mas mostrando só meias verdades. E isso estava colocando nossas crenças pessoais em cheque. Nem tudo é perfeito, mas como só o perfeito é compartilhado – a coisa perde valor.
Parece que estamos aqui só por amor ao amor. Que fotografar casamentos é ganhar dinheiro fácil. Mas a verdade é que aos sábados, colocamos nossas próprias crenças em cheque. Passamos alguns sábados, além de celebrando o amor de muita gente querida, nos bastidores, passando pela vergonha de ter que ser “ensinado” por donos de espaços de casamento a “dar descarga depois de usar o banheiro dos fornecedores” ou de ter que atravessar o país para fotografar um casamento mas ir dormir com fome porque não conseguimos comer no casamento – mas como estamos longe de casa e no meio da madrugada e em uma cidade pequena – não tem nada pra comer aberto. Isso jamais mostraríamos no instagram.
A segunda é como cada vez mais, as pessoas procuram mais e mais essas pessoas que conseguem divulgar amplamente essa vida perfeita o tempo inteiro como um “estilo de vida” nas redes sociais – e a importância que essa divulgação é dada pelos consumidores e algoritmos que ditam o quanto trabalharemos em um certo ano. Estão todos no Big Brother juntos. Uns produzem conteúdo, outros consomem. Deslizando o feed noite adentro procurando a vida perfeita. O casamento perfeito. A viagem perfeita.
Não é justo julgarmos essas pessoas, já que cada uma tem seu limite pessoal de quanto conseguem lidar com esse equilíbrio da necessidade de divulgar o trabalho com o peso que esse lado negativo, não mostrado pelo (no nosso caso específico) mercado de casamento. Sabemos que cada um tem seus motivos, intenções e vontades específicas por terem feito a escolha de fotografar casamentos. Muita gente não é incomodada pelas mesmas coisas que nos incomodam no mercado, e vice-versa. Então não é uma questão pessoal – completamente entendemos que esse é “o jogo” que tem que ser jogado hoje. A questão é, será que nós dois, Frankie e Marília, queremos jogar o jogo desse jeito? Não sei se conseguimos, e é por isso que entramos nesse bloqueio maluco que entramos nos últimos meses.
COMO PODEMOS USAR A INTERNET DE UM JEITO MAIS HONESTO COM NOSSAS PERSONALIDADES PRA VENDER NOSSO TRABALHO? Ainda não encontramos essa resposta, mas queríamos muito voltar a conversar com as pessoas por aqui.
Já estávamos nos sentindo assim há um tempo, e a coisa tinha piorado bastante – então no ano passado nós realmente acabamos usando o instagram o mínimo possível. E para dois fotógrafos, querendo fugir da tela clara do instagram, fugir pro escuro – sem medo de errar, longe do mercado de casamento mas perto de tudo que nos fez ter esse amor pela fotografia fazia todo o sentido. E pra nós foi um presente.
É no escuro que sonhamos enquanto dormimos. Poder se esconder ali no escuro por tantas horas por semana por tantos meses, aprendendo a idéia de uma fotografia de que sonhávamos lá atrás – antes de entrar pros casamentos – foi um presente pra nós quando mais precisávamos. Como foi bom ver outros jeitos de fotografar, e aprender uma fotografia técnica com gente que sabe o que está fazendo. Aprender também uma fotografia autoral com gente que tem uma linguagem própria, tão longe das nossas e de nossas referências.
Foram semanas esperando os poucos segundos dos nossos dias entre o momento que o revelador caía na placa de colódio e de quando jogávamos água por cima de tudo pra parar o processo. É no escuro que nós sonhamos, e por alguns segundos misteriosos, nossos sonhos se tornavam realidade sobre uma placa úmida de colódio. Acho que por enquanto, já que ainda não sabemos onde queremos estar nem onde estamos, se esconder por um tempo no escuro deixa tudo mais fácil pra nós dois. Obrigado por nos tirarem dele de vez em quando.
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